Um Legado Verdadeiramente Aliado: Tenente-General Michael Barbero (Apos.) fala sobre seu pai na Campanha da Itália



Um general americano homenageia seu pai, um oficial ítalo-americano do Exército dos EUA, cuja língua, liderança e coragem uniram as forças americanas e brasileiras na Itália.

Como parte de nossa série contínua destacando os membros do Comitê Nacional dos Estados Unidos da América, o Allies Museum – World War II Liberation of Italy conversou com o Tenente-General (Apos.) Michael D. Barbero, do Exército dos Estados Unidos, em uma entrevista com o Diretor Fundador Guido Molinari. Oficial condecorado que comandou forças norte-americanas em todos os níveis, de tenente a tenente-general — incluindo 46 meses no Iraque — o General Barbero traz percepções tanto pessoais quanto profissionais à história dos Aliados. Orgulhoso filho do Coronel (Apos.) Eugene C. Barbero, um oficial ítalo-americano do Exército dos EUA que treinou e serviu ao lado da Força Expedicionária Brasileira na Campanha da Itália, o Tenente-General Barbero reflete sobre o notável serviço de seu pai, os laços duradouros do esforço aliado e a importância de recordar essa luta verdadeiramente internacional pela liberdade.
A história do seu pai é notável — um oficial ítalo-americano servindo com tropas brasileiras na Itália. Você pode nos contar sobre o serviço dele e sua experiência na guerra?
Meu pai, Eugene C. Barbero, nasceu na cidade de Nova York, filho de pais italianos que emigraram de Canelli, na Itália. Ele foi comissionado como tenente do Exército dos Estados Unidos ao se formar na Universidade de Nova York em junho de 1941. Após a entrada dos Estados Unidos na guerra, foi designado para o Brasil como oficial de ligação junto à Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante sua formação e treinamento. Ele foi enviado para a Itália com essa unidade e serviu na Campanha da Itália com a FEB até novembro de 1944. Mais tarde, foi designado como Oficial de Armamentos da 88ª Divisão de Infantaria dos EUA (“Blue Devils”), servindo até o final da guerra e durante a ocupação pós-guerra no norte da Itália.
Quando perguntei a ele como havia sido escolhido para o Brasil, respondeu que, como crescera falando italiano em casa, seu registro no Exército mencionava sua fluência — e o Exército presumiu que ele poderia aprender português facilmente. Então, o enviaram para o Brasil. A história do meu pai é a história americana por excelência.
A história do meu pai é a história americana por excelência. Ele foi um americano de primeira geração, filho de imigrantes italianos, o primeiro de sua família a se formar na universidade e parte da “Maior Geração”, que serviu na Segunda Guerra Mundial. Ele dizia que passou 30 anos no Exército porque “queria retribuir ao país que havia dado tanto à sua família”. Sua experiência também reflete a natureza verdadeiramente Aliada da campanha: um oficial americano servindo com uma unidade brasileira sob comando dos EUA na Itália. Ele tinha muito orgulho desse serviço e do desempenho da Força Expedicionária Brasileira.
Seu pai recebeu a Ordem do Mérito Militar do Brasil, no grau de Cavaleiro, durante a Campanha da Itália. Você pode nos contar a história por trás dessa condecoração e o que ela representou para ele?

Ele era muito humilde e não falava muito sobre seu serviço na guerra, mas, quando perguntado, dizia que os brasileiros eram bons soldados e combatentes muito duros. Após sua morte, fiz algumas pesquisas e descobrimos a foto dele recebendo uma condecoração brasileira do general comandante da FEB.
Em 2013, pouco antes de eu me aposentar do serviço ativo no Exército dos EUA, fui convidado a visitar o Brasil para fazer uma palestra na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. Abri minhas palavras mostrando essa foto do meu pai recebendo a medalha do General Mascarenhas na Itália — e ela foi recebida com uma ovação de pé (ou, mais precisamente, o serviço do meu pai na FEB é que recebeu a ovação de pé)!
Disseram-me que o povo brasileiro ainda sente muito orgulho do serviço da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, e eu certamente percebi esse orgulho nacional durante minha visita ao Brasil.
Meu pai aposentou-se do Exército dos Estados Unidos com o posto de coronel, após 30 anos de serviço. Teve uma carreira muito distinta, com muitas conquistas, e usou com orgulho, em seu uniforme, a fita da Ordem do Mérito Militar do Brasil recebida durante a Campanha da Itália, ao longo de toda a sua carreira.
A Campanha da Itália parece ter moldado não apenas o serviço de seu pai, mas também a história de sua família. Como seus pais se conheceram?
No final da guerra, a unidade do meu pai, a 88ª Divisão de Infantaria do Exército dos EUA, permaneceu no norte da Itália em missão de ocupação. Meu pai era o comandante de um depósito de armamentos nessa região, responsável por receber e preparar armas e equipamentos militares norte-americanos para envio aos Estados Unidos. Enquanto isso, minha mãe se formou na Universidade da Virgínia Ocidental, juntou-se à Cruz Vermelha e foi designada para a Itália imediatamente após o fim da guerra. Meu pai e minha mãe se conheceram no norte da Itália e se casaram pouco depois de retornarem aos Estados Unidos. Pode-se dizer que, se não fosse pela Campanha da Itália, eu talvez nem existisse!
Há algum objeto do período de seu pai na guerra que tenha um significado especial para você?

Como você sabe, a pistola Colt .45 era a arma lateral padrão emitida às forças dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Por isso, muitos dos nossos exércitos aliados também equiparam seus soldados com essa pistola.
Eu tenho a pistola Colt .45 do meu pai, que ele carregou durante toda a guerra e ao longo de seus 30 anos de carreira no Exército. Ela foi emitida para ele no Brasil, quando se juntou à Força Expedicionária Brasileira, e traz o carimbo de propriedade do Governo do Brasil. Não sei exatamente como ele conseguiu mantê-la, mas ele tinha muito orgulho dela — e eu me sinto honrado por ele tê-la me deixado.
Ela representa perfeitamente a natureza aliada desta campanha e deste museu — uma pistola do Exército Brasileiro, de design e origem americanos, usada durante a Campanha da Itália por um oficial norte-americano. Eu adoraria encontrar uma forma de doá-la ao Allies Museum.
A pistola Colt .45 do meu pai, que lhe foi emitida pelo Exército Brasileiro. Ele a carregou durante toda a Campanha da Itália e ao longo de seus 30 anos de serviço no Exército dos Estados Unidos. Observe o carimbo do Exército Brasileiro.
No mundo de hoje, por que você acredita que a história da Campanha da Itália — e a unidade aliada que ela representa — continua sendo tão relevante?
Concordo plenamente com a missão do museu — precisamos comemorar essa campanha em grande parte esquecida. Ao fazer isso, também celebramos o caráter aliado dessa campanha e o valor das alianças para as gerações presentes e futuras. Meus pais fizeram parte ativa da “Maior Geração”, e este museu é mais uma forma de homenagear essa geração — de muitos países — que libertou a Itália.
Infelizmente, o mundo de 2025, especialmente com a guerra da Rússia na Ucrânia, nos lembra que o mal ainda existe neste mundo e que a única maneira de enfrentá-lo e derrotá-lo é por meio de um esforço unido entre aliados e alianças. Este museu servirá, espero, como um poderoso lembrete para as futuras gerações sobre a força das alianças na derrota das forças do mal.
Nota do Editor: Esta entrevista foi conduzida por Guido Molinari com o Tenente-General (Apos.) Michael D. Barbero em 15 de outubro de 2025 e foi conduzida em inglês e traduzida para o português. Para acessar a entrevista original, clique aqui: https://www.alliesmuseum.com/a-truly-allied-legacy.
